Categories InovaSocial IndicaPosted on 18/11/202418/11/2024Falas Negras 2024: Justiça e racismo em debate Imagine um jovem que poderia ser o colega que sentava ao seu lado na escola, aquele amigo que sempre jogava bola no final da tarde ou até você mesmo. Acusado de um crime que não cometeu, sua única ligação com o caso é uma foto em um “catálogo de suspeitos” – um mecanismo presente em muitas delegacias brasileiras e que, na prática, carrega rostos de jovens negros capturados em batidas policiais ou até retirados de redes sociais. Este é o ponto de partida do especial “Falas Negras”, que a Globo exibe no dia 20 de novembro, no Dia Nacional da Consciência Negra. Com uma mistura instigante de dramaturgia e experimento social, o programa traz Wesley (vivido por Diego Francisco), um jovem negro acusado de assassinato com base apenas no reconhecimento fotográfico pela mãe da vítima. Um julgamento fictício conduzido no tribunal reproduzido pelo especial coloca cidadãos reais – o júri – na missão de decidir o destino de Wesley. E é aí que a reflexão se intensifica: será que a cor da pele influencia não apenas o processo jurídico, mas o olhar de quem decide? “Poderia ser eu mesmo, um primo, um vizinho”, diz Clayton Nascimento, que além de apresentar a narrativa é co-criador e roteirista do especial. “Quando soube que 83% das pessoas presas injustamente por reconhecimento fotográfico são negras, segundo dados da Defensoria Pública do Rio de Janeiro e do Condege, percebi que era urgente transformar isso em arte. É a partir dessa emoção que queremos provocar o público.” Quando números contam histórias reais Um levantamento realizado pela Defensoria Pública do Rio de Janeiro e pelo Conselho Nacional das Defensoras e Defensores Públicos-Gerais (Condege) revelou que 83% das pessoas presas injustamente por reconhecimento fotográfico no Brasil são negras. Esses dados foram a base para a criação do programa. “Poderia ser eu mesmo, um primo, um vizinho. Achei a porcentagem tão alta! É a partir dessa informação que surge a necessidade de transformar o assunto em arte, criação. Nasceu assim o ‘Falas Negras’ de 2024”, explica Clayton, que também é co-criador e roteirista do especial. Os números por trás dessas histórias trazem um panorama preocupante: segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a maioria dos jovens acusados nesses processos é composta por pessoas pardas ou pretas. Essa realidade ecoa no sistema carcerário brasileiro, marcado por profundas desigualdades. No especial, essa desigualdade é traduzida em cenas e diálogos que convidam o público a refletir sobre como essas práticas afetam vidas e como, de alguma forma, todos estamos conectados a essa engrenagem. Sob a direção artística de Antonia Prado, o especial também joga luz sobre o mecanismo dos “catálogos de suspeitos”. Segundo Prado, essas compilações de fotografias são frequentemente formadas por imagens de jovens negros capturadas em abordagens policiais arbitrárias ou até retiradas de redes sociais. “Muitos deles sequer deveriam estar nesses catálogos, pois não cometeram nenhum crime”, ressalta a diretora. “Falas Negras” vai além dos números e das análises técnicas, trazendo uma narrativa que coloca o espectador frente a frente com as histórias e os dilemas que essas injustiças provocam. Combinando emoção e informação, o especial não apenas denuncia, mas também inspira uma reflexão urgente sobre o impacto do racismo estrutural no sistema judiciário brasileiro. O programa será exibido nesta quarta-feira (20), no Dia Nacional da Consciência Negra, logo após “Mania de Você”, na TV Globo. Um convite para enxergar, questionar e, quem sabe, transformar. Confira o trailer a seguir. Chamada Falas Negras 2024 Compartilhe esse artigo: