Tendências para 2020: Ideias que mudarão o mundo – Parte 1

Tendências para 2020: Ideias que mudarão o mundo – Parte 1

Como já fizemos anteriormente, gostamos de comentar alguns relatórios com previsões e perspectivas de tendências. Um exemplo é o texto “As previsões da Singularity University até 2038 – Parte I: A próxima década”, onde falamos sobre as visões da SU para os próximos 10 anos. Mais recentemente, o texto ganhou uma edição de podcast atualizada (que você pode ouvir abaixo ou no seu agregador de podcast preferido – Spotify, iTunes, entre outros).

Leia também “Tendências para 2020: Ideias que mudarão o mundo – Parte 2” 

Neste texto abaixo, vamos comentar as tendências para 2020 feitas pelos editores do LinkedIn. Segundo Rafael Kato, editor do LinkedIn News para América Latina e Espanha, “Todo mês de dezembro, os Editores do LinkedIn olham atentamente para seus feeds e procuram dezenas de colaboradores para identificar as grandes ideias que moldarão o ano seguinte. (…) no ano passado tivemos um acerto de 58% em nossas previsões de 2019.”

1. O benefício mais desejado no trabalho será o tempo

Segundo os editores do LinkedIn, “o trabalho flexível não é mais um subsídio concedido a alguns funcionários; é uma demanda de todos. A geração Z e os millennials estão liderando o caminho ao estabelecer uma nova relação com o escritório, de acordo com reportagem  de Claire Cain Miller e Sanam Yar, do New York Times.” Pelo mundo, home office, trabalho remoto e semanas reduzidas têm se espalhado por empresas e empreendedores e tem potencial para ser uma das tendências para 2020. Um levantamento feito pelo IBGE e divulgado esta semana (18) mostra que, em 2018, 3.8 milhões de brasileiros trabalhavam dentro de casa, o chamado home office.

No Japão, a Microsoft experimentou em agosto de 2019 a semana de 4 dias. O resultado foi um enorme salto na produtividade. Com base nas vendas por funcionário, os trabalhadores foram quase 40% mais produtivos nas horas compactadas do período experimental, do que no mesmo mês do ano anterior. Já no Brasil, a Microsoft adota o modelo de trabalho remoto. Ao contrário do home office que, segundo a lei trabalhista local, obriga a empresa a pagar custos com energia elétrica, internet e equipamentos, o modelo de trabalho remoto afirma que o funcionário pode trabalhar de qualquer lugar, a hora que quiser.

2. A guerra entre as plataformas de streaming

Tirando o fato que o conteúdo ficará mais democrático, este tópico não tem tanto impacto social. Talvez o ponto interessante esteja na criação de empregos. Segundo o relatório do LinkedIn, “‘Em 2020, mais dinheiro será gasto em programas com roteiros originais do que em toda a década dos anos 90’, conta o professor de marketing da NYU Scott Galloway.” Para que isso impacte diretamente o cenário brasileiro, precisaremos arranjar formas de impulsionar as produções locais.

3. Uma nova contagem regressiva da mudança climática já começou

Greta Thunberg não é um fenômeno isolado. Apesar da garota sueca ganhar as capas de jornais (e o título de Pessoa do Ano, pela revista Times), ela é apenas um reflexo de uma geração que entendeu a urgência da crise climática. Durante a COP25, em Madri, dezenas de jovens de diversas nacionalidades ocuparam o palco principal do evento. Com o rosto pintado de verde e, nas mãos, desenhos de um olho azul simbolizando a necessidade de enxergar o futuro, o grupo quebrou o protocolo da organização e promoveu um protesto pacífico.

De acordo com o texto do LinkedIn, “na próxima década, 184 países precisam cumprir os compromissos de redução de emissões, que assumiram em Paris cinco anos atrás, a fim de manter o aumento da temperatura global abaixo de 2 °C. Mas essas promessas não estão sendo cumpridas. (…) cientistas agora alertam que uma meta de 1,5 °C é mais factível. Ativistas esperam que a cúpula da Conferência do Clima (COP) 26 das Nações Unidas, em Glasgow, [evento que acontecerá em novembro de 2020] ajude a corrigir os rumos.”

Segundo a cientista Laura Wellesley, “se observarmos um aumento contínuo da preocupação pública pelo clima e pelo consumo, estaremos preparando o terreno, potencialmente, para alguns compromissos bastante ambiciosos”. Infelizmente ambicioso talvez não seja a palavra certa. Eu chamaria de “compromissos urgentes”, esta que é uma das tendências para 2020.

4. Os governos podem ter que tratar a recapacitação profissional como um novo ensino básico

No podcast especial “InovaSocial Futuro: 2030 e o sonho utópico” (ouça abaixo), falamos sobre os impactos de uma sociedade que viverá mais, gerando um desafio para os gestores públicos. Recapacitaremos este público ou, nas palavras de Yuval Harari – historiador e autor de best sellers -, criaremos uma classe de “inúteis” (pessoas que recebem uma ajuda financeira do governo, mas não consegue se encaixar no novo mercado)?

Leia mais no texto “O futuro do trabalho e o surgimento da classe dos inúteis

O texto do LinkedIn afirma que “passamos anos estimando quantas vagas de nossos empregos seriam roubadas pelos robôs. Agora é hora de pensarmos em como as pessoas vão viver nessa nova realidade e entender os detalhes da recapacitação constante da força de trabalho”. O texto explica que, segundo Jason Wingard, reitor da Escola de Estudos Profissionais da Universidade de Columbia, temos 3 opções: “Os trabalhadores estarão entregues à própria sorte em um modelo de prestação de serviço, as empresas investirão para manter seus talentos atualizados e na folha de pagamentos… ou os governos assumem essa responsabilidade”.

“Temos que fazer algumas perguntas importantes: é nossa responsabilidade garantir que nossa sociedade esteja preparada?”, pergunta Wingard. Para prepararem os trabalhadores para a Era Industrial, as nações construíram uma infraestrutura de Ensino Fundamental e Médio. Agora, os governos podem precisar fazer algo semelhante para a educação de adultos. Essa discussão promete ser uma das tendências para 2020 que mais ganhará participantes.

5. Falaremos mais abertamente sobre saúde mental no local de trabalho

A depressão e a ansiedade custam à economia global 1 trilhão de dólares a cada ano, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Para os empregadores, esse é um problema real de retenção de talentos e, para os funcionários, uma necessidade crescente. Mesmo assim, o assunto ainda transita entre os dois extremos: de um lado, o tabu na discussão em torno do tema (funcionários com medo de serem demitidos e empregadores que não sabem como agir), do outro, uma comunidade bem esclarecida e que já entende a importância da saúde mental no trabalho. Essa discussão já tem ganho vários capítulos, mas ainda tem espaço para ser uma das grandes tendências para 2020.

No podcast #40, “Burnout, a síndrome do esgotamento profissional” contamos sobre a Síndrome de Burnout, que tem atingido cada vez mais profissionais das mais diversas áreas (ouça abaixo).

6. O século asiático começará sob nuvens escuras

“Em 2020, as economias asiáticas serão mais fortes do que todo o resto do mundo somado pela primeira vez desde o século XIX. A Ásia também abrigará mais da metade da classe média do mundo”. Pela primeira vez em muitos anos, o mundo está vendo o poder passar de mãos. Desde as Grandes Guerras, o mundo ocidental liderava as economias e se mostravam mais relevantes do que a região oriental do planeta. Com o crescimento quase que exponencial do mercado chinês, além da boa década da Coréia do Sul e Índia (não à toa, da promessa que eram os BRICS, apenas um país não está na região).

Mas essa troca de poderes entre ocidente e oriente não deve ser tranquila. De acordo com o FMI, com o crescimento desacelerado da China e da Índia, somado com as tensões em Hong Kong e entre Japão e Coréia, o “século asiático” deve começar conturbado. Talvez esta seja a tão prometida crise que especialistas falam e que tem potencial para ser uma das tendências para 2020 (e que adicionamos ao nosso texto de tendências de 2019).

A desaceleração do crescimento na Ásia testará o sistema capitalista, alerta Esther Duflo, economista do MIT e ganhadora do Prêmio Nobel de 2019. “China e Índia têm liderado a retirada de muitas pessoas da pobreza nos últimos 30 anos”, explica ela. “Em um mundo em que as desigualdades explodem e os ricos estão ficando mais ricos, uma verdade é que os muito pobres também estão ficando mais ricos. Se China e Índia desacelerarem e deixarem de fazer isso, essa será uma grande questão para a legitimidade de todo o projeto do capitalismo.”

7. Dissecaremos o que significa comer carne

O assunto não é trivial: o mercado de alternativas à carne poderá chegar a US$ 140 bilhões no final da década, segundo estimativas do banco de investimento Barclays. Também conhecido como alimentos plant-based, este tipo de produto tem se mostrado como uma alternativa para quem quer colaborar com a redução do impacto ambiental que, principalmente, a pecuária de larga escala exerce no planeta. No entanto, ainda precisamos caminhar bastante neste cenário.

“A chegada da carne cultivada é uma ameaça muito maior para o setor de pecuária, que agora tenta organizar-se para enfrentá-la”, diz Laura Wellesley, pesquisadora de alimentos na organização Chatham House. Muito mais que uma das tendências para 2020, a discussão em torno do consumo de carne deve ganhar vários desdobramentos nos próximos anos, principalmente com “chegada da carne cultivada em laboratório, como carne de gado, suína ou de frango produzida a partir de células animais e sem abate.”

8. O capitalismo estará no banco dos réus

Particularmente, diria que “banco dos réus” é uma afirmação um tanto quanto extrema, mas, sim, o capitalismo estará em cheque. “O sistema que faz o capitalismo funcionar bem para a maioria das pessoas está quebrado”, afirma o bilionário e gestor de fundos hedge, Ray Dalio. O mundo está se aproximando de uma grande mudança de paradigma”, alerta Dalio. O que mais chama atenção é que ele não está sozinho. Em agosto de 2019, publicamos o texto “O capitalismo está morto! Uma carta aberta à humanidade e o impacto dos bancos na mudança climática”, no entanto, as discussões em torno do capitalismo parecem ser uma das grandes tendências para 2020. Assinada pelo ex-executivo do HSBC, Jeremy Desir, o texto mostra a carta publicada pelo matemático e traz alguns comentários do InovaSocial.

Ora, mas se o formato mais utilizado pelo mundo está quebrado, quais são as alternativas? Segundo os editores do LinkedIn, existem duas saídas:

  • O capitalismo reformará a si mesmo, como prometido na declaração de agosto, assinada por 181 CEOs proeminentes. As empresas devem atender às necessidades de todas as partes interessadas, abandonar o curto prazo e trabalhar para melhorar a sociedade, não apenas lucrar com ela;
  • Os eleitores —e os governos que eles elegem — assumirão o controle dessa questão. Na campanha presidencial dos EUA, a questão dos ricos e pobres voltou a ser o centro das atenções. Warren e seu colega pré-candidato Bernie Sanders não ficaram impressionados com a declaração da Business Roundtable, considerando-a uma retórica vazia. “Precisamos ver alguma substância para compensar o cinismo” aconselha Jim O’Neill, economista e ex-ministro conservador do governo britânico. A reforma “não precisa acontecer por meio dos governos, mas eu suspeito fortemente que é a única maneira de acontecer”, acrescenta ele. “Negócios vivem de acordo com regras, e as regras não são suficientemente rígidas.”

9. O reconhecimento facial se tornará mais onipresente e mais controverso

Utilizado em aeroportos, empresa e, até mesmo, em igrejas, o reconhecimento facial promete ser a grande tecnologia do momento – seja para o bem, ou para o mal. A tecnologia está em uso em pelo menos 17 aeroportos nos EUA, enquanto o governo francês está preparando um aplicativo para smartphone que exige que os cidadãos façam login facial para acessar uma variedade de serviços públicos. A China requer escaneamento facial para a aquisição de uma linha telefônica, e a Huawei comercializa com entusiasmo a sua tecnologia de reconhecimento facial para cidades africanas.

“Se não traçarmos um limite, essa tecnologia invasiva se tornará uma parte onipresente de nossas vidas, com efeitos devastadores para a liberdade humana”, diz Evan Greer, vice-diretora da ONG que advoga por direitos digitais Fight for the Future.

A perspectiva é que o reconhecimento facial torne-se uma das grandes tendências para 2020 e uma das tecnologias que irá impactar na justiça social dos próximos anos (leia mais em nosso texto de maio de 2018). No Brasil, a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) deve apimentar a discussão da utilização deste tipo de tecnologia, seja ela por governos, ou pela iniciativa privada.

10. A era do empreendedor absoluto irá acabar…

Um dos tópicos mais complexos apresentados pelo time de editores do Linkedin na lista de tendências para 2020 afirma que “o colapso da WeWork lembrou a todos que uma empresa precisa ter mais do que uma boa história para contar. O professor de marketing da NYU Scott Galloway prevê um declínio de 50% no valor de “empresas unicórnio” de capital fechado em 2020”. Apelidadas de “incineradoras”, empresas de tecnologia SAAS substituíram lucros e margens por visão e crescimento, queimando dinheiro para comprar crescimento sem nenhuma perspectiva de obter margens operacionais positivas.

Ainda segundo o texto, “o fraco IPO da Uber foi o alerta — e o caso do WeWork foi a confirmação — de que o mercado financeiro não será seduzido por fundadores carismáticos e pela narrativa esperta que conquistou os investidores, explica Galloway. Segundo ele, o capital retomará o controle da situação.”

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