Project ReefLink: Cuidar de um aquário pode ser também uma forma de cuidar dos recifes

Project ReefLink: Cuidar de um aquário pode ser também uma forma de cuidar dos recifes
O que você vai descobrir a seguir:
  • • Como funciona o Project ReefLink, que transforma aquaristas em colaboradores da ciência.
  • • O papel do microbioma dos corais e por que ele é chave para sua sobrevivência.
  • • Por que o programa está restrito aos EUA, mas pode inspirar iniciativas no Brasil.

Os recifes de corais ocorrem em mais de 100 países e territórios; embora ocupem apenas cerca de 0,2% do leito oceânico, sustentam pelo menos 25% das espécies marinhas conhecidas, além de prover proteção costeira, alimentação, e segurança econômica para centenas de milhões de pessoas. Mudanças climáticas, poluição e acidificação ameaçam seriamente sua existência.

Foi nesse contexto que surgiu o Project ReefLink, criado pela Seed Health em parceria com The Two Frontiers Project. A iniciativa aposta na ciência cidadã para aproximar aquaristas domésticos da pesquisa científica. O objetivo é simples e ambicioso ao mesmo tempo: mapear o microbioma dos corais, ou seja, a comunidade de microrganismos – bactérias, vírus e fungos – que vive dentro e ao redor deles.

Na prática, o processo acontece assim:

Participantes: podem se inscrever aquaristas domésticos, aquários públicos, grupos de restauração de corais e até produtores ou vendedores que mantêm estoques diversificados.

Kit de coleta: chega pelo correio com tubos esterilizados, etiquetas numeradas e instruções de manuseio estéril para evitar contaminações que comprometeriam os micróbios estudados.

Coleta: envolve retirar um pequeno fragmento do coral e/ou um pouco de muco, além de uma amostra da água do tanque cru, procedimento que leva em média de 15 a 20 minutos.

Envio: o material deve ser postado no mesmo dia ou no dia seguinte, usando a etiqueta pré-paga fornecida, para garantir que a amostra chegue fresca ao laboratório.

Análise: os cientistas fazem tanto culturas microbianas, que permitem observar microrganismos vivos, quanto sequenciamento de DNA, que revela toda a diversidade genética, incluindo organismos que não podem ser cultivados.

Esse conjunto de passos dá robustez ao estudo. Imagine comparar dois corais em condições diferentes: um aquário com temperatura mais alta e pH alterado que abriga certo tipo de bactéria, frente a outro em ambiente mais estável.

Enquanto isso, a análise ajuda a identificar quais micróbios funcionam como aliados, fortalecendo a resiliência dos corais, e quais aceleram seu declínio. Os resultados devem alimentar uma base de dados aberta e um banco de culturas microbianas, que no futuro podem apoiar desde o manejo em aquários até a restauração de recifes naturais com probióticos marinhos.

O ReefLink, por enquanto, acontece apenas nos Estados Unidos. A limitação se deve a barreiras alfandegárias, regras de transporte de material biológico e ao risco de degradação das amostras em longos trajetos, fatores comuns em programas que trabalham com material vivo.

Ainda assim, essa iniciativa abre espaço para imaginar futuros possíveis. No Brasil, instituições de pesquisa, aquários públicos e museus marinhos já acumulam experiência com recifes e poderiam se inspirar nesse modelo, lembrando que pequenos gestos locais podem abrir caminho para descobertas globais.

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