Prêmio Nobel da Paz destaca as ligações entre a fome e o conflito

Prêmio Nobel da Paz destaca as ligações entre a fome e o conflito

O Prêmio Nobel da Paz em 2020 foi concedido ao Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas por seus esforços para combater a fome, promover condições para a paz em áreas afetadas por conflitos e prevenir o uso da fome como arma de guerra. Essa escolha ressalta claramente a preocupação crescente com o aumento da insegurança alimentar global e as conexões claras entre fome e conflito.

Hoje, mais de 820 milhões de pessoas – cerca de 1 em 9 em todo o mundo – não têm o suficiente para comer. Essas pessoas sofrem de insegurança alimentar, ou não têm acesso consistente aos alimentos certos para manter seus corpos e mentes saudáveis.

Nós, seres humanos, precisamos de uma dieta variada que inclua uma variedade de nutrientes essenciais. A insegurança alimentar é especialmente importante para crianças pequenas e bebês que ainda estão dentro dos ventres de suas mães, pois a nutrição inadequada pode prejudicar permanentemente o desenvolvimento e o crescimento do cérebro.

A fome tem muitas causas. Pode ser uma arma de guerra; o resultado de uma pandemia global como a COVID-19, que interrompe a produção de alimentos; ou o resultado do aquecimento global, à medida que eventos climáticos extremos e mudanças climáticas aumentam as perdas de safras em todo o mundo.

The State of Food Security and Nutrition in the World 2020The State of Food Security and Nutrition in the World 2020

Atendendo a uma necessidade global

O Programa Mundial de Alimentos foi criado no início dos anos 1960, a pedido do presidente dos Estados Unidos, Dwight D. Eisenhower. “Nunca devemos esquecer que existem centenas de milhões de pessoas, especialmente nas partes menos desenvolvidas do mundo, sofrendo de fome e desnutrição, embora vários países, incluindo o meu, estejam produzindo alimentos em excesso”, Eisenhower disse em um discurso de 1960, na Assembleia Geral da ONU. “Este paradoxo não deve continuar existindo.”

Enquanto os EUA já forneciam ajuda alimentar direta aos países necessitados, Eisenhower convidou outros países para se unirem na criação de um sistema para fornecer alimentos aos estados membros através da ONU. O PMA é agora uma das maiores agências humanitárias do mundo. Em 2019, 97 milhões de pessoas foram atendidas em 88 países.

O PMA fornece assistência direta e trabalha para fortalecer a capacidade de cada país de atender às necessidades básicas de seu povo. Com sua própria frota de caminhões, navios e aviões, a agência realiza missões de resposta a emergências e entrega alimentos e assistência às vítimas de guerras, conflitos civis, secas, inundações, quebras de safra e outros desastres naturais.

Quando as emergências diminuem, os especialistas do PMA desenvolvem programas de alívio e reabilitação, e fornecem ajuda focadas no desenvolvimento. Mais de 90% de seus 17.000 funcionários estão baseados em países onde a agência oferece assistência.

O Prêmio Nobel da Paz destaca as ligações entre a fome e o conflito

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Conexões entre a fome e o conflito

O prêmio Nobel reconhece uma conexão fundamental entre a fome e os conflitos. Conforme o Conselho de Segurança da ONU enfatizou em uma resolução de 2018, a humanidade nunca poderá eliminar a fome sem primeiro estabelecer a paz. O conflito causa insegurança alimentar, perturba a infraestrutura e a estabilidade social, dificultando que os suprimentos cheguem às pessoas que precisam deles. Muitas vezes, as partes que estão em guerra usam, deliberadamente, a fome como estratégia.

A insegurança alimentar também perpetua o conflito, pois afasta as pessoas de suas casas, de suas terras e de seus empregos, aprofundando as falhas existentes. A fome provocada por conflitos se espalhou nos últimos anos no Afeganistão, na República Centro-Africana, na República Democrática do Congo, no Sudão do Sul e no Iêmen.

A crescente ameaça de insegurança alimentar

A insegurança alimentar é um desafio global urgente, hoje e no futuro. O PMA relata que, a menos que uma ação urgente seja tomada, a pandemia da COVID-19 pode quase dobrar o número de pessoas que sofrem de fome aguda até o final de 2020. Os impactos econômicos da COVID-19 atingem mais fortemente as pessoas mais pobres do mundo: se essas pessoas não conseguirem trabalhar, não têm dinheiro para comprar comida.

No longo prazo, as mudanças climáticas são uma ameaça igualmente urgente. A agricultura é uma das indústrias mais expostas e vulneráveis a mudanças climáticas. Pense nisso como uma “indústria da Cachinhos Dourados”: o clima deve estar “perfeito” para o cultivo e as condições que são muito quentes, muito frias, muito chuvosas ou muito secas podem significar colheitas ruins ou perdas totais. Todos os aspectos da segurança alimentar podem ser afetados pelas mudanças climáticas, incluindo quem obtém os alimentos, quanto custa e quanto é desperdiçado ou perdido ao longo do caminho.

Sementes de conflito

A melhor maneira de prevenir futuras crises de fome é agir antes que elas se desenvolvam. A pandemia da COVID-19 revelou muitas falhas nos sistemas políticos e econômicos globais e agravou a insegurança alimentar para as populações mais pobres do mundo.

Como o prêmio Nobel da Paz deixa claro, para termos um mundo de paz e estabilidade é preciso que todos recebam a mais básica das dignidades humanas: o alimento de que precisam para viver.


Este artigo foi escrito por Jessica Eise, pesquisadora de pós-doutorado na Purdue University (Indiana, EUA), e localizado para o Brasil a partir da publicação realizada no site The Conversation, sob uma licença Creative Commons. Para ler o artigo original, clique aqui.


Créditos: Imagem Destaque – Stosun / Shutterstock

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