O que são “ilhas de frescor” e como elas podem redesenhar as cidades

O que são “ilhas de frescor” e como elas podem redesenhar as cidades
O que você vai descobrir a seguir:
  • • O que significa o conceito de “ilhas de frescor” e por que ele ganha força nas cidades.
  • • Como parques, sombra, água e até materiais urbanos ajudam a reduzir o calor extremo.
  • • Exemplos em Paris, Medellín e no Brasil que mostram essa solução em ação.

Quem nunca buscou sombra debaixo de uma árvore no auge do verão e sentiu um alívio imediato? Pois essa experiência tão comum ganhou nome e importância nas cidades: as ilhas de frescor.

Esses pontos espalhados pelas cidades funcionam como refúgios térmicos. São espaços onde a temperatura do ar é visivelmente mais baixa que a do entorno. Podem ser parques, praças arborizadas, bibliotecas climatizadas abertas ao público, fontes, espelhos d’água ou até ruas planejadas para garantir sombra e ventilação. Em dias de calor extremo, essas ilhas tornam-se verdadeiros salva-vidas urbanos, especialmente para idosos, crianças e trabalhadores que passam muito tempo ao ar livre.

As cidades têm adotado redes de espaços de resfriamento como parte de seus planos de ação para calor, recomendados por organismos de saúde pública, como a OMS/Europa.

Como funcionam as ilhas de frescor

A física por trás dessas ilhas é simples e poderosa. Árvores oferecem sombra e reduzem a temperatura do ar por evapotranspiração; estudos europeus mostram quedas médias próximas de 0,8 °C, podendo ser maiores em áreas verdes amplas. Telhados reflexivos, segundo a EPA, podem reduzir de 1,2 °C a 3,3 °C o pico de temperatura interna em casas sem ar-condicionado. Já superfícies frias, embora diminuam a temperatura do solo, exigem cautela: pesquisas em Phoenix (EUA) indicam que, ao refletirem mais calor, podem aumentar o desconforto térmico de pedestres ao meio-dia se não houver sombra.

A água também é uma aliada. Fontes, espelhos d’água e nebulizadores resfriam o microclima por evaporação, embora precisem ser usados de forma inteligente para não gerar desperdício. E há ainda o papel da ventilação natural: ruas sombreadas por edificações e passagens de vento bem planejadas aliviam a carga térmica sobre quem caminha.

Outro ponto essencial é a equidade. Priorizar bairros com menos árvores e maior vulnerabilidade – onde vivem idosos, crianças ou trabalhadores ao ar livre – salva vidas e reduz desigualdades no enfrentamento do calor extremo.

Exemplos que inspiram pelo mundo

Paris é uma referência: a prefeitura mantém um mapa interativo com mais de 1.400 “îlots de fraîcheur”, que incluem piscinas, parques, bibliotecas e museus classificados oficialmente como “locais frescos”.

Em Medellín, na Colômbia, o programa dos “corredores verdes” trouxe reduções locais médias de cerca de 2 °C nas áreas de intervenção após três anos. Além do resfriamento, os corredores também aumentaram a biodiversidade e melhoraram a qualidade do ar.

No Brasil, o Rio de Janeiro lançou o “Projeto Ilhas de Frescor”, que prevê que, até 2030, cada morador tenha uma dessas áreas a até 15 minutos de caminhada. Em São Paulo, o Plano Municipal de Arborização Urbana busca ampliar a cobertura verde em áreas mais vulneráveis. Já em Fortaleza, estudos acadêmicos mostram como o Parque do Cocó funciona como regulador natural do microclima, melhorando o conforto térmico em seu entorno.

O futuro das cidades em aquecimento dependerá de multiplicar essas soluções. E há um caminho prático para começar: mapear pontos críticos de calor, sombrear rotas de espera (como pontos de ônibus e praças) e conectar parques, bibliotecas e centros culturais em uma rede de refúgios. Em várias cidades, bibliotecas já funcionam como “cooling centers” durante ondas de calor, como em Washington D.C.

Seja com árvores, telhados frios, fontes ou equipamentos públicos adaptados, ilhas de frescor são muito mais que uma ideia charmosa de urbanismo: elas são uma estratégia vital de saúde pública e justiça climática. Porque, em meio ao concreto, todos nós precisamos de um espaço para respirar. E, de preferência, sem derreter.


Créditos: Imagem Destaque – artem evdokimov/Shutterstock

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