Resgate das tradições: Como resfriar os prédios na Índia?

Resgate das tradições: Como resfriar os prédios na Índia?

A onda de calor que assola a Índia nos últimos anos traz à tona um problema que, embora tenha raízes recentes, já começa a ser enfrentado com soluções antigas. O estilo de construção ocidental se tornou comum nas cidades indianas nas últimas décadas e está sendo apontado como um dos culpados pelo aumento das temperaturas urbanas.

Por outro lado, em meio a esse cenário de aquecimento, uma tendência vem ganhando força: o retorno às técnicas de construção tradicionais, que são mais adequadas ao clima local e oferecem uma solução sustentável para o futuro.

Hoje, a Índia conta com 461 milhões de pessoas vivendo em centros urbanos. Esse crescimento urbano intenso está acelerando um ritmo e escala de construção proporcionalmente impressionantes, deixando o país vulnerável a grandes impactos climáticos.

O aumento da pegada de carbono só agrava a situação, uma vez que o setor de edificações e construção é o maior emissor de gases de efeito estufa no mundo, representando 37% das emissões globais, de acordo com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). Aplicar o “estilo internacional moderno” de forma generalizada nas construções indianas tem apenas piorado esse cenário.

Mumbai, por exemplo, registrou em abril de 2024 uma temperatura que não era vista há 15 anos, ultrapassando os 40°C. As construções no estilo ocidental, com suas fachadas de vidro e concreto, não apenas retêm calor, mas também intensificam a dependência de ar-condicionado, criando um ciclo vicioso que agrava ainda mais o aquecimento urbano.

Já as construções tradicionais indianas sempre foram bem adaptadas ao clima local. Edifícios antigos incorporavam soluções arquitetônicas como janelas com telas (“jalis”) e beirais (“chajjas”), que permitiam a circulação de ar enquanto bloqueavam o calor do sol. A partir dos anos 90, a pressão por modernização trouxe uma arquitetura globalizada que, apesar de visualmente atraente, revelou-se ineficaz para o clima tropical da Índia.

A boa notícia é que uma nova geração de arquitetos indianos está redescobrindo os materiais e técnicas locais para criar construções mais frescas e ecologicamente corretas. O uso de tijolos de terra comprimida, terra batida e bambu está se expandindo, proporcionando não só uma redução nas emissões de carbono durante a construção, mas também um conforto térmico natural.

Um exemplo notável é o Hospital Universitário e Centro de Pesquisa Symbiosis, em Pune, que foi erguido com tijolos de terra estabilizada. Esse material, com sua alta massa térmica, mantém o interior do edifício consideravelmente mais fresco ao longo do dia, mesmo nos meses mais quentes.

Outro material tradicional que vem sendo redescoberto é o bambu. Amplamente utilizado em áreas suscetíveis a enchentes, o bambu está se mostrando um recurso sustentável e altamente resistente, adequado para diversos tipos de construções. O Instituto de Pesquisa e Treinamento em Bambu, em Maharashtra, exemplifica essa tendência, utilizando o bambu como principal elemento estrutural em sua arquitetura moderna, combinando tradição e inovação.

Essa abordagem não apenas responde aos desafios climáticos imediatos, mas também aponta para um futuro onde a construção civil na Índia pode ser mais harmoniosa com o meio ambiente. O que se espera é que, com o tempo, essas práticas não sejam apenas uma alternativa, mas a nova norma no desenvolvimento urbano indiano, proporcionando cidades mais frescas e sustentáveis.

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