COPs explicadas: um guia completo sobre as conferências que definem o futuro do planeta

COPs explicadas: um guia completo sobre as conferências que definem o futuro do planeta

O que você vai descobrir a seguir:

  • O que são as COPs e por que existem diferentes conferências ambientais: Entenda a importância da COP do Clima, da Biodiversidade e da Desertificação e como elas se conectam.
  • Os principais eventos históricos dessas conferências: Saiba como o Protocolo de Quioto, o Acordo de Paris e o Marco Global da Biodiversidade moldaram as políticas ambientais globais.
  • O que esperar da COP30 no Brasil: Descubra por que Belém sediará o evento e quais temas serão debatidos, incluindo desmatamento, bioeconomia e financiamento climático.

Nos últimos anos, temas como mudanças climáticas, desmatamento e crise hídrica entraram de vez no debate público. Em meio a isso, as COPs (Conferências das Partes) se tornaram grandes eventos globais. Mas o que exatamente são essas conferências? E por que ouvimos, por exemplo, falar de COP16 e COP30 ao mesmo tempo?

A sigla COP vem do inglês Conference of the Parties (Conferência das Partes) e se refere a reuniões entre países que assinaram tratados internacionais para lidar com desafios ambientais. O detalhe é que existem diferentes COPs, cada uma tratando de um tema específico.

Hoje, três COPs são consideradas essenciais: a ☀️ COP do Clima (UNFCCC), que enfrenta o aquecimento global e a emissão de gases do efeito estufa; a 🌱 COP da Biodiversidade (CDB), que protege ecossistemas, espécies ameaçadas e o uso sustentável dos recursos naturais; e a 🏜 COP da Desertificação (UNCCD), que trabalha para evitar a degradação do solo e restaurar terras que perderam sua capacidade produtiva.

Mesmo sendo eventos separados, todas essas COPs estão conectadas. Afinal, o desmatamento (tema da COP da Biodiversidade) afeta o clima (tema da COP do Clima) e pode levar à desertificação (tema da COP da Desertificação). Agora, vamos destrinchar cada uma dessas conferências, seus marcos históricos e sua relevância para o mundo.


☀️ COP do Clima

📍 Nome oficial: Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC)
🌎 Próxima edição: COP30 (novembro de 2025, Belém (PA), Brasil)
🔥 Foco principal: Reduzir as emissões de gases do efeito estufa e combater o aquecimento global.


Eventos históricos da COP do Clima

Protocolo de Quioto (COP3, 1997, Japão): O Protocolo de Quioto foi o primeiro grande acordo internacional para enfrentar as mudanças climáticas, estabelecendo metas obrigatórias para a redução de emissões de gases do efeito estufa nos países desenvolvidos. A ideia era que essas nações, historicamente responsáveis pela maior parte da poluição global, cortassem suas emissões em pelo menos 5% até 2012. No entanto, o tratado enfrentou desafios: os Estados Unidos, um dos maiores emissores do mundo, nunca ratificaram o acordo, e vários países tiveram dificuldades em cumprir suas metas. Apesar disso, Quioto abriu caminho para um debate mais estruturado sobre o combate ao aquecimento global, preparando o terreno para acordos mais abrangentes no futuro.

Acordo de Paris (COP21, 2015, França): Duas décadas depois de Quioto, a comunidade internacional percebeu que era preciso um compromisso mais amplo e flexível para reduzir as emissões de carbono. O Acordo de Paris foi um marco porque, pela primeira vez, todos os países do mundo – desenvolvidos e em desenvolvimento – assumiram metas para limitar o aquecimento global a um máximo de 1,5°C acima dos níveis pré-industriais. Diferente de Quioto, Paris não impôs metas fixas, mas exigiu que cada nação definisse seus próprios compromissos e os revisasse periodicamente para aumentar a ambição climática. Embora tenha sido um avanço diplomático significativo, o grande desafio do Acordo de Paris é garantir que os países realmente cumpram suas promessas, já que muitas das metas ainda dependem de mudanças estruturais profundas na economia global.

Os efeitos do aquecimento global já são sentidos no mundo todo: eventos climáticos extremos, elevação do nível do mar e insegurança alimentar. As decisões da COP influenciam diretamente políticas ambientais, econômicas e industriais – desde a regulamentação de combustíveis fósseis até investimentos em energias renováveis.

Entre 10 e 21 de novembro de 2025, a cidade de Belém (PA), no coração da Amazônia, será palco da COP30. Esse evento coloca o Brasil em uma posição estratégica, já que o país abriga a maior floresta tropical do mundo e tem um papel fundamental no combate ao aquecimento global. O desmatamento, a transição para uma economia sustentável e o financiamento para a preservação ambiental estarão no centro das discussões.

A escolha da Amazônia como sede da COP30 também dá visibilidade a quem vive na floresta: povos indígenas e comunidades tradicionais, que há séculos protegem esse ecossistema essencial. Seus conhecimentos e modos de vida sustentáveis serão um dos pontos-chave do evento. A expectativa é que o Brasil aproveite esse protagonismo para transformar promessas em ações concretas, garantindo que a conferência deixe um legado real para a preservação do planeta.


🌱 COP da Biodiversidade

📍 Nome oficial: Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB)
🌎 Última edição: COP16 (2024, Colômbia – concluída em fevereiro de 2025, na Itália)
🌱 Foco principal: Proteger ecossistemas, combater a extinção de espécies e incentivar o uso sustentável dos recursos naturais.


Eventos históricos da COP da Biodiversidade

Metas de Aichi (COP10, 2010, Japão): No início da década de 2010, a perda acelerada de biodiversidade acendeu um alerta global. Espécies desapareciam em ritmo preocupante, ecossistemas vitais estavam ameaçados e a degradação ambiental avançava sem controle. Diante desse cenário, a COP10, realizada em Nagoya, Japão, estabeleceu o Plano Estratégico para a Biodiversidade 2011-2020, que definiu 20 metas específicas conhecidas como Metas de Aichi. O compromisso era ambicioso: expandir áreas protegidas, reduzir a poluição, restaurar ecossistemas degradados e integrar a conservação da biodiversidade em políticas públicas e setores econômicos. No entanto, até 2020, nenhuma das metas foi totalmente cumprida, e apenas seis tiveram avanços parciais. O fracasso das Metas de Aichi reforçou um problema crítico: sem mecanismos eficientes de monitoramento e financiamento, grandes compromissos ambientais correm o risco de ficar apenas no papel.

Marco Global da Biodiversidade (COP15, 2022, Canadá/China): Diante da falha das Metas de Aichi e da contínua destruição ambiental, a COP15 aprovou um novo plano para mudar esse cenário: o Marco Global da Biodiversidade. Seu principal objetivo é proteger 30% das terras e oceanos do planeta até 2030, uma meta ousada conhecida como “30×30”. Além disso, os países assumiram o compromisso de restaurar 30% dos ecossistemas degradados e reduzir pela metade o desperdício de alimentos e a poluição por plásticos. Para transformar essas promessas em ação, um passo importante foi dado durante a sessão retomada da COP16 em Roma, com o lançamento do Fundo Cali. Esse mecanismo busca garantir que países em desenvolvimento e comunidades indígenas tenham acesso a recursos financeiros para implementar políticas de conservação. O fundo se baseia em contribuições voluntárias de empresas que utilizam informações de sequência digital (DSI) de recursos genéticos para fins comerciais. Apesar de representar um avanço histórico, o Fundo Cali ainda enfrenta desafios: precisa atrair mais investimentos e garantir que os recursos cheguem, de fato, a quem mais precisa. Saiba mais sobre o Fundo Cali neste artigo do InovaSocial.

A natureza funciona como uma engrenagem, e cada espécie tem um papel essencial nesse equilíbrio. Quando florestas são derrubadas, oceanos são poluídos e animais entram em extinção, toda a rede de vida é afetada – e nós também. Sem biodiversidade, corremos o risco de perder alimentos, remédios naturais e até a estabilidade do clima. As decisões da COP da Biodiversidade ajudam a criar áreas protegidas, combater a destruição ambiental e garantir que possamos continuar vivendo em um planeta saudável.


🏜 COP da Desertificação

📍 Nome oficial: Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação (UNCCD)
🌎 Última edição: COP15 (2022, Costa do Marfim)
🌾 Foco principal: Restaurar solos degradados e evitar o avanço da desertificação.


Eventos históricos da COP da Desertificação

Meta de Neutralidade da Degradação do Solo (COP12, 2015, Turquia): Com o avanço da desertificação e a crescente degradação de solos férteis, a COP12 estabeleceu um objetivo ambicioso: alcançar a neutralidade na degradação do solo até 2030. Isso significa que, para cada hectare de terra degradada, outro deve ser restaurado, garantindo que a produtividade agrícola e os serviços ecossistêmicos não sejam perdidos. Essa meta é fundamental para a segurança alimentar global, pois a degradação dos solos já afeta milhões de pessoas, reduzindo a produção de alimentos e intensificando crises hídricas. No entanto, alcançar essa neutralidade exige mudanças profundas nas práticas agrícolas e no uso da terra, o que ainda é um desafio para muitos países, especialmente em regiões de clima seco e em desenvolvimento.

Acordos de restauração de terra (COP15, 2022, Costa do Marfim): Na COP15, a desertificação foi finalmente reconhecida como uma ameaça global urgente, e vários países assumiram compromissos concretos para restaurar terras degradadas. A União Europeia, por exemplo, anunciou um plano para recuperar 100 mil km² de áreas críticas, enquanto nações africanas intensificaram esforços para expandir projetos de reflorestamento e recuperação de solos. Além disso, a conferência reforçou a necessidade de investimentos em práticas agrícolas sustentáveis e em soluções baseadas na natureza para combater a desertificação. Embora esses compromissos sejam um passo importante, a restauração da terra continua sendo um desafio global, pois exige cooperação internacional e financiamento contínuo para que os esforços não se percam ao longo dos anos.

O solo é a base da vida. Sem terras férteis, não há alimentos suficientes para a população global. A desertificação não só reduz a produtividade agrícola e acelera as mudanças climáticas, como também força milhões de pessoas a migrarem, intensificando crises sociais e econômicas. As decisões da COP da Desertificação impulsionam a recuperação de áreas degradadas e promovem práticas que evitam o colapso dos ecossistemas terrestres.

As COPs estão interligadas e definem nosso futuro

As COPs não são apenas eventos para diplomatas – elas definem políticas que impactam diretamente nosso dia a dia. Decisões tomadas nesses encontros influenciam o preço da energia, a preservação de florestas, a qualidade da água e até mesmo a segurança alimentar global. As mudanças climáticas, a perda de biodiversidade e a degradação do solo são desafios interligados que exigem soluções coordenadas. Não adianta reduzir emissões de carbono sem proteger as florestas, assim como não é possível combater a desertificação sem restaurar ecossistemas. Por isso, cada COP tem um papel fundamental dentro dessa engrenagem global de sustentabilidade.

O Brasil, sendo um dos países mais biodiversos do mundo e lar da Amazônia, terá uma grande responsabilidade na COP30. O evento em Belém colocará o país no centro das discussões ambientais, trazendo oportunidades e desafios. De um lado, há o potencial de liderar um modelo de desenvolvimento sustentável baseado na bioeconomia e na conservação. De outro, há a necessidade de garantir que os compromissos assumidos não fiquem apenas no papel. As promessas feitas nessas conferências são essenciais, mas a grande questão continua sendo: como transformar esses acordos em ações concretas antes que seja tarde demais?

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