Categories Inova+Posted on 08/04/202023/05/2022Guerra contra o Covid-19: Herança positiva pós pandemia Pode parecer um pouco alarmista chamar a atual pandemia de “Guerra contra o Covid-19”, mas a situação é bem semelhante ao que vimos nas Grandes Guerras. É comum conectarmos o conflito com a perda de vidas humanas, mas existem outros aspectos que não podemos ignorar e que estão presentes nestes momentos obscuros da nossa história. Os Jogos Olímpicos deste ano, por exemplo, foram adiados pela terceira vez na história. As outras duas vezes foram durante as Primeira e Segunda Guerra Mundial. Ainda por causa da pandemia, conflitos locais ganharam tréguas — palestinos e israelenses têm se unido para realizar ações conjuntas contra o coronavírus. Em resumo, estamos em combate e nossas armas são o isolamento social, água e sabão. Já que estamos em um momento delicado (e estressante, diga-se de passagem), por quê não tentamos aprender algo com a situação? A Segunda Guerra Mundial nos deixou como herança positiva; antibióticos, microondas, computadores, cirurgias plásticas e outras tantas invenções. O que a pandemia de Covid-19 pode nos deixar como herança positiva? Na ciência, a primeira herança positiva: Vacinas e testes médicos O Brasil não é um país acostumado com conflitos, então, é normal — por mais que tenhamos especialistas de qualidade — que a maioria da população não saiba como se portar nestas situações. Somos um país acostumado ao contato físico e que quase desconhece o uso de máscaras de proteção. Mas estamos aprendendo e, acima de tudo, abdicando de ações cotidianas (acredito que o principal fator está no isolamento social e nos movimentos #FiqueEmCasa; afinal, em um país tropical, é comum andar pelas ruas — já que não temos invernos rigorosos, como Rússia ou Canadá). Este cenário também está ensinando nossos gestores públicos a se prepararem para situações de extrema emergência e, principalmente nas capitais, estamos vendo ações nunca antes adotadas, como a criação de hospitais provisórios e a criação de protocolos de atendimentos médicos mais robustos. Já pelo mundo, algumas iniciativas estão resultando em uma herança positiva. Segundo o investidor Seth Bannon, em entrevista para o site Impact Alpha, vacinas e testes rápidos estão sendo criados de forma acelerada. “O [nosso projeto] mais ambicioso é o HelixNano (empresa o qual Bannon é investidor). Eles estão desenvolvendo uma vacina de mRNA multi-antígeno. Esta é basicamente uma vacina que pode, não apenas nos vacinar contra esta versão do Covid-19, mas contra possíveis mutações. Basicamente seria uma vacina que você poderia receber e que seria o fim do problema. Uma de nossas empresas, chamada BillionToOne, remodelou a sua tecnologia, usada para testes genéticos pré-natais, para criar um teste de Covid-19 mais simples. Se funcionar — eles ainda estão nos últimos estágios de validação —, permitirá um milhão de testes por dia.” Além das invenções citadas por Bannon, algumas tendências foram impulsionadas pela pandemia. A telemedicina, por exemplo, era algo muito discutido em vários países. Não só por questões éticas, mas também tecnológicas. Com o atual cenário, em poucas semanas vimos o projeto de lei 696/2020, que libera o uso da telemedicina durante a pandemia, ser proposto. A ideia, segundo a Agência Senado, é “desafogar hospitais e centros de saúde com o fornecimento de atendimento a pacientes à distância, por meio de recursos tecnológicos, como videoconferências”. Lembrando que no texto “O futuro da medicina: ‘Você teria coragem de engolir um nanorobô?’”, publicado no InovaSocial em março de 2019, afirmava que “o assunto [telemedicina] ainda vai gerar muita discussão entre as entidades médicas, mas me parece inevitável o avanço da telemedicina e da consulta virtual para casos mais simples, o que aceleraria o atendimento especialmente em um País como o Brasil, que tem muitas populações que moram em regiões muito afastadas onde não há profissionais de saúde”. Apesar de ser algo pontual, isso pode ser o início de uma herança positiva que resultará na adoção da telemedicina. Fora da área da saúde, o home office: A tendência que virou cotidiano Já fora do campo da saúde, o home office foi o grande destaque. Aprendemos, de uma hora pra outra, que podemos trabalhar de casa e o trabalho remoto deixou de ser uma tendência, para se transformar em uma opção de trabalho no futuro próximo. Um levantamento feito pelo IBGE e divulgado no início do ano (leia mais no texto “Tendências para 2020: Ideias que mudarão o mundo – Parte 1”) mostra que, em 2018, 3.8 milhões de brasileiros trabalhavam dentro de casa, no formato chamado home office. Ainda no InovaSocial, afirmei em agosto de 2019, no texto “Como serão as cidades do futuro nos próximos 100 anos?”, que antes dos hologramas, precisamos resolver uma questão comportamental, a adesão do home office como plataforma de trabalho. O formato já foi o queridinho de algumas empresas, mas tem perdido espaço para outras formas de trabalho. Segundo artigo publicado na Harvard Business Review, o trabalho remoto — onde você pode trabalhar de qualquer lugar, não necessariamente de casa — pode aumentar 4.4% a produtividade no trabalho. Já percebemos que esta realidade não se aplica a todo mundo, mas a fase experimental forçada do home office / trabalho remoto também nos fez perceber falhas e lacunas que precisam ser preenchidas para que o modelo seja implementado de vez. É como se milhões de pessoas optassem por uma fase de testes, ou seja, podemos colher muitos aprendizados deste momento e aperfeiçoar o formato. Mas uma coisa é fato, muitas empresas já perceberam que não precisam ter grandes estruturas (escritórios complexos, que consomem água, energia e outros insumos). Do lado do funcionário, percebemos que trabalhar de casa não é tão fácil e precisa de alguns suportes — seja um notebook de alta performance fornecido pela empresa, ou um canto de trabalho dentro da residência. Talvez uma herança positiva que só teremos que ajustar. Por fim, a natureza tem nos mostrado como, em escala planetária, somos minúsculos. Bastou alguns dias da ausência do homem, para que animais “invadissem” pequenas cidades (se você perdeu, tem situações bem engraçadas e curiosas, como a dos elefantes embriagados em um vilarejo da China; a invasão de bodes em Llandudno e a revolta de macacos na Índia, até os pandas estão acasalando depois de 10 anos!), a poluição decaísse (falamos sobre a queda das emissões de CO2 em fevereiro), a camada de ozônio começasse se recuperar (regenerando a circulação de ventos) e até barulhos estranhos no céu — spoiler: não é o fim do mundo, é só a atmosfera interagindo com o planeta (leia mais aqui). Passado a pandemia, talvez possamos perceber que a jovem Greta Thunberg não estava tão errada, e a mudança climática é algo que precisa ganhar mais atenção urgentemente. Compartilhe esse artigo: