Categories Inova+Posted on 09/12/202509/12/2025Do campo ao prato: como a apicultura familiar sustenta a biodiversidade • A cadeia da apicultura familiar impulsiona renda no campo e ajuda a conservar grandes áreas naturais. • O trabalho das abelhas garante polinização de cultivos essenciais e sustenta a biodiversidade. • Desafios como agrotóxicos e clima exigem escolhas conscientes, incluindo o consumo de mel de origem sustentável. No episódio #149 do podcast do InovaSocial, recebemos Léo Cardoso, apicultor, empresário e fundador da Mel do Sol, para um bate-papo sobre apicultura sustentável e a importância ambiental das abelhas. A partir da trajetória de Léo e da atuação da empresa, o diálogo mostra como um pote de mel está conectado à regeneração da natureza, à geração de renda no campo e à preservação de um dos pilares da vida no planeta: as polinizadoras. Antes de entrar nos detalhes técnicos, vale contextualizar o cenário. A Mel do Sol atua há décadas com produtos das abelhas, apoiando uma rede de apicultores familiares espalhados por diferentes regiões do Brasil. Com apoio da Sitawi, o negócio já mobilizou R$ 500 mil para fortalecer mais de 400 apicultores em oito estados e conservar mais de 70 mil hectares. Assim, conecta financiamento de impacto, autonomia no campo e conservação ambiental. Abelhas, mel e renda no campo A apicultura brasileira é majoritariamente familiar. Diferente de países como Estados Unidos ou Austrália, onde grandes empresas operam milhares de colmeias em escala industrial, aqui o trabalho é feito por pequenos produtores. Os apiários são menores e mais dispersos. Isso ocorre, em parte, devido à espécie predominante no país: as abelhas africanizadas. Elas são resultado do cruzamento entre linhagens europeias e africanas e, como consequência, são mais adaptadas ao clima tropical e também mais defensivas. Nesse contexto, a Mel do Sol funciona como uma indústria que organiza, qualifica e dá escoamento à produção dos apicultores. O modelo busca um equilíbrio delicado: pagar melhor a quem produz, garantir mel de alta qualidade e, ao mesmo tempo, manter preços acessíveis por meio da escala. Para muitas famílias, a apicultura é fonte importante de renda complementar ou principal. Além disso, não exige grandes extensões de terra e permite arranjos flexíveis, como o “aluguel” de áreas em forma de mel. Ao mesmo tempo, o mel responde a tendências de consumo. Ele é um alimento pouco processado, com forte apelo nutricional e sensorial. Quanto mais próximo da origem, maior o frescor, o aroma de flor e a sensação de produto ligado ao território. O papel invisível das abelhas na manutenção da vida Geólogo de formação, Léo explica como a evolução de plantas com reprodução sexuada caminhou junto com o surgimento de insetos polinizadores. Muitas espécies vegetais dependem de visitas de abelhas para garantir frutos e sementes. Em alguns cultivos, a presença delas é decisiva para a produtividade, como maçã, amêndoas, café e soja. A flor oferece néctar, que é fonte de energia, e pólen, que fornece proteínas. Em troca, recebe o transporte do material genético que garante sua reprodução. A abelha, ao visitar sucessivas flores, leva grãos de pólen grudados no corpo. Assim, promove fecundação e diversidade genética. É um acordo silencioso, construído ao longo de milhões de anos, que sustenta cadeias alimentares inteiras. Nesse contexto, o papel da apicultura é manejar colmeias com responsabilidade, permitindo que as abelhas armazenem alimento suficiente antes da coleta do excedente. Ameaças, cidades e o papel de quem consome Entre os maiores desafios, aparecem agrotóxicos, mudanças climáticas e perda de habitat. Léo cita casos de apiários inteiros dizimados após pulverizações mal planejadas. Ele também explica o efeito de pesticidas como os neonicotinoides, que desorientam as abelhas até elas não conseguirem voltar para casa. Sem polinizadores, há queda na produção agrícola e perda de biodiversidade. Por isso, a resposta passa por legislação mais rigorosa, informação aos produtores e reconhecimento social da importância dessas espécies. Enquanto isso, cresce nas cidades o interesse por abelhas sem ferrão em quintais e varandas. Léo vê o movimento com simpatia, desde que respeite espécies locais e não incentive a retirada de abelhas de outros biomas. Não se trata apenas de produzir mel urbano. Na verdade, é uma oportunidade de educação ambiental, conexão afetiva e reforço da polinização em áreas urbanas. Por fim, o episódio destaca a importância da autonomia e do empreendedorismo. Em vez de esperar respostas apenas do Estado, apicultores, consumidores e iniciativas de finanças de impacto podem assumir responsabilidade conjunta por justiça social e ambiental. Assim, quem apoia a apicultura sustentável – comprando mel responsável, investindo em negócios de impacto ou defendendo políticas que protejam polinizadores – ajuda a manter vivo um sistema que beneficia campo, cidade e natureza. Para quem quiser se aprofundar na história da Mel do Sol, entender os bastidores da apicultura familiar e ouvir em detalhes os impactos ambientais e sociais das abelhas, o episódio #149 do InovaSocial está disponível a seguir: Ouça também no Apple Podcasts. Compartilhe esse artigo: