Clima, alimentação e futuro: por que o Banco Mundial sugere repensar o consumo de carne

Clima, alimentação e futuro: por que o Banco Mundial sugere repensar o consumo de carne
O que você vai descobrir a seguir:
  • • O Banco Mundial propõe rever o papel da carne nas políticas públicas para enfrentar a crise climática.
  • • A ideia é dar mais espaço (e preço justo) para frutas, legumes e proteínas vegetais.
  • • A proposta sugere uma transição gradual, sem excluir produtores ou impor mudanças radicais.

Um prato sustentável não começa só na escolha do cardápio. Começa bem antes, nos bastidores: no campo, no transporte, nos incentivos fiscais e, principalmente, nos subsídios. Esse é o ponto de partida do relatório “Recipe for a Livable Planet”, publicado pelo Banco Mundial em 2024, que lança um olhar afiado sobre o impacto do sistema alimentar global nas mudanças climáticas. A proposta central é clara: repensar para onde vai o dinheiro público quando o assunto é o que comemos.

Hoje, muitos governos ainda sustentam financeiramente cadeias produtivas intensivas em carbono, como as de carne vermelha e laticínios. O relatório não propõe cortar esses subsídios da noite para o dia. Em vez disso, recomenda realocá-los de forma estratégica para alimentos com menor impacto ambiental, como frutas, vegetais e proteínas vegetais. Em outras palavras, substituir incentivos a modelos “ultrapassados” por apoio ao que pode ajudar a reequilibrar o planeta.

O que o relatório recomenda:

  • Redirecionamento de subsídios: menos para a carne, mais para alimentos de baixo carbono
  • Precificação total (full-cost pricing): incluir os custos ambientais e de saúde no valor final dos alimentos
  • Incentivo a dietas de menor impacto: respeitando culturas alimentares, mas promovendo alternativas mais sustentáveis
  • Transição gradual: com políticas adaptadas a cada país e sem demonizar a pecuária
  • Investimentos mais inteligentes: apoiar sistemas mais limpos e eficientes, mesmo dentro da produção animal

Embora o apelo inicial seja aos países mais ricos – aqueles onde o consumo de carne é alto e os cofres públicos, também – a lógica é global. Afinal, a produção de carne bovina emite até 20 vezes mais gases de efeito estufa do que leguminosas. Ou seja: além de caro para o bolso, é pesado para o clima.

Mas vale lembrar: o mercado da carne não é feito só de números. Ele envolve pessoas, famílias, tradições e modos de vida enraizados em diversas culturas e economias. Milhões de trabalhadores vivem da pecuária, direta ou indiretamente, e qualquer transição precisa considerar esse contexto. Reduzir impactos não pode significar descartar quem está há gerações nesse setor, mas sim criar alternativas dignas, diversificadas e sustentáveis para todos.

O que mais chama atenção no relatório é o esforço em revelar o que os preços escondem. Poluição, desmatamento, doenças crônicas ligadas ao consumo excessivo de carne: tudo isso tem um custo social significativo, raramente refletido na etiqueta do supermercado. Ao trazer esse debate à tona, o documento abre espaço para que sistemas alimentares mais justos, como a agroecologia e a agricultura familiar, deixem de ocupar uma posição periférica e passem a competir em condições mais equilibradas.

A discussão proposta pelo Banco Mundial é, acima de tudo, sobre direção. Não se trata de abandonar um setor ou impor mudanças drásticas, mas de reavaliar prioridades e distribuir melhor os incentivos públicos para que diferentes formas de produzir alimento possam coexistir de maneira mais justa. O desafio está em construir políticas que levem em conta os custos reais dos alimentos, considerando tanto os impactos ambientais quanto as realidades de quem vive da produção.

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