Nos EUA, vacina nasal contra a gripe pode ser aplicada em casa

Nos EUA, vacina nasal contra a gripe pode ser aplicada em casa
O que você vai descobrir a seguir:
  • • Como funciona a vacina nasal FluMist Home e por que ela virou notícia nos EUA.
  • • Quais são os riscos e limitações da autoadministração em casa.
  • • Por que outros países (inclusive o Brasil) ainda não adotaram esse modelo.

Nos Estados Unidos, vacinar-se contra a gripe já pode ser tão simples quanto receber uma encomenda em casa. Em setembro de 2024, a FDA aprovou que o FluMist, um spray nasal da AstraZeneca, pudesse ser autoadministrado por adultos ou aplicado por cuidadores em crianças. Em 15 de agosto de 2025 o programa FluMist Home foi lançado oficialmente, permitindo que a vacina nasal seja enviada em domicílio, com toda a logística necessária para armazenamento e aplicação.

O funcionamento do FluMist é relativamente simples para quem está acostumado com processos digitais. Primeiro, o interessado acessa o site oficial, preenche um questionário médico e passa por uma avaliação feita à distância por um profissional de saúde.

Se aprovado, a vacina nasal é enviada em uma embalagem refrigerada diretamente para casa, acompanhada de orientações detalhadas sobre armazenamento e aplicação. Esse cuidado com a logística é fundamental, já que vacinas precisam ser mantidas em temperaturas controladas para não perder eficácia.

Apesar de todo esse processo já ser muito interessante, a diferença mais marcante está na ciência por trás da fórmula: enquanto as vacinas contra a gripe mais comuns, aplicadas por injeção, utilizam vírus inativados (ou seja, mortos e incapazes de se replicar), o FluMist traz vírus atenuados, ainda vivos, mas enfraquecidos. Eles só conseguem se replicar na mucosa nasal, onde a temperatura é mais baixa do que no pulmão.

Essa característica faz com que o organismo monte uma defesa dupla: local, com produção de anticorpos que agem diretamente no nariz, e sistêmica, com anticorpos circulando pelo sangue e células de memória que garantem uma proteção mais duradoura.

Esse modelo está em funcionamento desde agosto de 2025, geralmente coberto pelos planos de saúde, apenas com um custo extra de US$ 9 para envio. Fora dos EUA, porém, nenhum outro país autorizou a aplicação domiciliar da vacina. A Europa, por exemplo, também utiliza a versão nasal (chamada Fluenz, também produzida pela AstraZeneca), mas sempre com aplicação profissional em clínicas ou farmácias.

E o motivo está nos riscos da autoadministração, que são considerados pontos sensíveis por autoridades de saúde e provavelmente pesam nas decisões de reguladores ao redor do mundo:

  • Precisão da técnica: em casa, é maior a chance de aplicação inadequada (nariz congestionado, posicionamento errado), o que pode reduzir a eficácia.
  • Cadeia de frio: vacinas precisam de armazenamento rigoroso; qualquer falha de temperatura compromete a potência.
  • Triagem de elegibilidade: gestantes, imunossuprimidos e pessoas com certas condições (ex.: asma grave) não devem usar vacina nasal viva. Sem triagem profissional, o risco de uso indevido aumenta.
  • Eventos adversos: reações leves são comuns, mas sinais mais sérios requerem reconhecimento e ação imediata.
  • Rastreabilidade pública: em ambientes de saúde, cada dose registrada fortalece a vigilância e a cobertura vacinal. Em casa, os dados podem se perder.

Esses pontos ajudam a explicar por que, até agora, a autoadministração da vacina contra a gripe permanece restrita aos EUA. No Brasil, a vacinação continua feita apenas em ambientes com supervisão profissional – tanto no SUS quanto na rede privada.

Ainda assim, a experiência americana levanta uma questão importante. Será que, no futuro, esse tipo de vacina poderá ser incorporado também por aqui? Enquanto isso não acontece, uma certeza permanece: independentemente de onde a vacina seja aplicada – no posto de saúde, na clínica ou, quem sabe em breve, em casa – o mais importante é garantir a imunização. Vacinar-se continua sendo a forma mais eficaz de se proteger da gripe e também de proteger quem está ao seu redor.

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