Investidores internacionais querem financeirar a descarbonização no Brasil, mas enfrentam escassez

Investidores internacionais querem financeirar a descarbonização no Brasil, mas enfrentam escassez

Investidores internacionais estão prontos para financiar a grande quantidade de descarbonização que precisa ser feita pelo governo brasileiro e por empresas do setor privado no país. O objetivo é que o país atinja as suas ambições de ser “zero líquido” e “neutro de carbono” até 2050 – entretanto, essas entidades nacionais estão demorando para criar planos de investimentos necessários.

Essa é uma das principais conclusões de um estudo da Janus Henderson, que analisou o tamanho total do mercado global de US$ 1 trilhão em emissões climáticas – incluindo títulos verdes, também chamados de “green bonds”, e instrumentos sustentáveis.

As descobertas da pesquisa sugerem que a demora do governo brasileiro e de empresas do setor privado em aceitarem a oferta estrangeira é a razão pela qual os países latino-americanos estão atrasados em relação a outros mercados em termos de financiamento de seus compromissos de descarbonização, que foram firmados na COP26. Apenas US$ 45 bilhões do US$ 1 trilhão das emissões de mercados de capitais de dívidas internacionais vieram da América Latina e são compostos, especificamente, por:

  • Títulos verdes de US$ 26 bilhões
  • Energia renovável e financiamento climático de US$ 17 bilhões
  • Títulos de sustentabilidade de US$ 2,8 bilhões

“As ambições políticas limitadas e a falta de financiamento do setor privado reduziram o progresso na descarbonização na América Latina, que poderia ser mais rápido”, diz Jennifer James, Gerente de Portfólio de Dívidas de Mercados Emergentes da Janus Henderson. “A questão não é de demanda, mas de oferta – há poucos países latino-americanos que emitiram quantias significativas de dívida sustentável em moeda forte. Nem mesmo o Brasil, que tem sido um dos poucos emissores ativos neste espaço de renda fixa, chegou perto da quantia necessária para os financiamentos de dívidas, que poderia ser captada para vários projetos que precisam ser implementados para que o país conquiste a sua meta de ser “carbono neutro”.

O Brasil é o segundo maior emissor de títulos climáticos na região, com emissão total de US$ 8,7 bilhões – mas a escala de seu financiamento verde é pequena devido ao tamanho do país. Já o Chile é o principal emissor, com US$ 9 bilhões em títulos em circulação.

No entanto, o relatório também mostra que a região é uma exceção positiva em outras questões climáticas, pois tem uma parte importante da sua energia renovável como porcentagem do consumo final total de energia em países diversos, grandes e densamente povoados – principalmente aqueles que são impulsionados pela geração de energia hídrica.

No Brasil, a dependência tradicional acerca da energia hídrica e o forte crescimento recente nas áreas de energia solar e eólica somam juntos, em todo o país, 47,1% e segundo Paul LaCoursiere, Diretor Global de Investimentos ESG da Janus Henderson, os investidores internacionais estão mais interessados em investir em novos projetos de energia para aumentar ainda mais esta porcentagem: “A ‘Bankability’ dos projetos é uma questão que precisa ser abordada e, embora vários projetos de grande escala estejam em andamento em países como Chile e Colômbia, o conjunto de projetos para investimento permanece limitado, por enquanto, em relação a outras regiões do mundo, principalmente na Ásia”.

LaCoursiere também afirma que os governos nacionais têm a responsabilidade de emitir novos títulos verdes e de sustentabilidade, criar novos benchmarks e deixar a emissão corporativa para trás, além de aproveitar os bolsos dos novos investidores de liquidez, que agora estão disponíveis para produtos de renda fixa relacionados a ESG.

“Quando se trata de financiar as iniciativas de descarbonização, acreditamos que as entidades soberanas têm um grande papel a desempenhar. Os países podem aumentar a dívida em níveis mais baixos e ajudar a estabelecer uma taxa de referência para outras entidades”, diz LaCoursiere.

Ele acrescenta que o aumento dos custos que devem vir com a inovação de renda fixa – como prêmios de transação (ou os famosos ‘greenium‘) e os custos adicionais de conformidade do progresso de quaisquer metas incluídas nos convênios de um título – podem deixar os potenciais emissores do setor privado cautelosos por serem os primeiros a emitir tais títulos. Entidades soberanas ou quase soberanas devem, portanto, desempenhar o papel vital de criar modelos de mercado e educar investidores e emissores.

“Em alguns casos, os líderes das perdas podem precisar ser apresentados primeiro para ajudar a ‘desbravar’ as principais iniciativas que são realmente inovadoras”, pontua LaCoursiere. “Neste estágio inicial, acreditamos que a renda fixa pode ter um papel limitado para desempenhar no financiamento das inovações, mas quando as tecnologias e os esforços locais forem mais avançados, a renda fixa certamente vai poder preencher esta lacuna de financiamento”.

LaCoursiere finaliza dizendo que uma melhor organização regional das políticas nacionais regulatórias e tributárias iria facilitar a capacidade dos investidores internacionais de entrarem em debêntures do mercado local e, portanto, isso poderia aumentar mais facilmente a liquidez deste tipo de transações.

Para conferir o relatório completo, clique aqui.

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Créditos: Imagem Destaque – Soonthorn Wongsaita / Shutterstock

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