A inovação como pensamento cotidiano: Conclusões sobre um workshop – Parte 2

A inovação como pensamento cotidiano: Conclusões sobre um workshop – Parte 2

Precisamos falar sobre inovação. A minha ideia era começar este texto falando sobre inovação social, no entanto, percebi que o mercado ainda segue muito imaturo para pularmos etapas (calma, vou explicar). O que significa inovação para você? Um novo smartphone? Drones sendo usados na entrega de produtos? Tudo isso é inovação, mas também não é. A inovação está muito ligada ao advento das novas tecnologias, mas o verbo inovar não é uma ação, é um pensamento, quase uma filosofia de vida. O dicionário Michaelis define inovação como “ato ou efeito de inovar. Tudo que é novidade; coisa nova”. Derivada do latim, a palavra significa renovação, ou seja, a inovação é quase que uma promessa de Ano Novo. Infelizmente, para muitos ainda é exatamente isso… uma promessa.

A inovação não está apenas ligada à tecnologia, você pode (e deve) inovar em gestão, em processos, no seu dia a dia, na vida! Não está entendendo nada? Prepare o cérebro, porque hoje nós vamos entrar no coração da inovação.

Como havíamos falado no primeiro texto, participamos do workshop “Financiando inovações sociais para mudanças sistêmicas”, conduzido pela Louise Pulford, diretora do Social Innovation Exchange (SIX). Para completar, durante os dias 09 e 10 de maio, também participamos do ProXXIma 2017, talvez um dos eventos que mais fomentam a inovação no Brasil. O tema deste ano foi “business first” (quase um mantra à la Trump, só que mais empreendedor) e, durante dois dias inteiros, diversos palestrantes – dos mais diversos mercados – falaram sobre comunicação, marketing e vendas. Em determinado momento, a verdade foi dita. Não podemos mais cortar custos como diferencial de mercado. Estamos cortando custos há 15 anos. Quem trabalha em empresa grande sabe bem o que é isso. A meta do ano seguinte é sempre o dobro do ano anterior, só que gastando a metade da verba, certo?

Não podemos mais cortar custos como diferencial de mercado. Estamos cortando custos há 15 anos.

Então, se não podemos cortar custos (entenda custo como qualquer matéria prima, mão de obra ou suor próprio usado em um negócio), precisamos nos reinventar, inovar. Precisamos acordar pensando “como posso me reinventar hoje?”. O famoso “pensar fora da caixa” (ou qualquer outra frase de impacto que signifique que temos que sair do nosso estado cômodo e pensarmos). E de quem é esta tarefa dentro do universo dos negócios? De todos!

O marketing precisa inovar, o financeiro também e, até mesmo, o jurídico. Precisamos reinventar tantos aspectos e níveis das nossas corporações, fundações e startups, que direcionar a inovação para um departamento, como se fosse tarefa de meia dúzia de pessoas, faz com que a inovação seja visto como um custo, quando deveria ser um investimento. Delegar a “inovação” para um departamento é transformar um grupo de pessoas em chatos, que ficam pregando ideias que ninguém quer escutar. Você acha mesmo que o seu comercial vai querer escutar o “time de inovação” com aquela meta “cabeluda” batendo na porta? Ou o jurídico e a sua pilha de contratos?

Assim como foi com a sustentabilidade, que nasceu como um departamento e agora é uma cultura (nem que seja economizando papel, apagando a luz ou desperdiçando menos água), a inovação precisa seguir o mesmo rumo. Para exemplificar melhor, vamos voltar na espiral de inovação social, um framework apresentado no workshop do SIX e publicado no nosso primeiro texto.

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A primeira etapa do framework é “Oportunidade e Desafios”. Levando isso para o universo dos negócios, esta fase é o famoso insight, o click da ideia. É aquele momento em que olhamos o problema e pensamos “(*adicione a sua entidade religiosa de preferência aqui*), eu preciso resolver isso!”. Pode parecer bobo, mas identificar o problema já é um grande passo. Muitas pessoas preferem ignorar o problema e isso apenas gera o efeito bola de neve ou ímã de problemas. Mas nem só de problemas nossa vida se resume. Esta também pode ser a fase onde vemos uma oportunidade de ouro. Aquela moeda de R$ 1 que ninguém viu na calçada. As melhores oportunidades são ignoradas pelo grande público. Como a história do surgimento do Airbnb, publicado neste link.

É claro que, também não adianta só identificar o problema/oportunidade, é necessário pensar em ideias para arranjar uma (ou mais) solução. Talvez você até inicie esta fase sozinho, caso seja um empreendedor, mas não vai evoluir só. Geração de ideias se traduz em discussões, resultado de diferentes pensamentos, experiências.

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Quem nunca teve uma ideia genial, contou para um amigo e este “amigo ingrato” a destruiu? Quando estou trabalhando em um projeto, adoro ouvir as pessoas do “vai dar merda” nesta fase. Aquela prima, amigo ou colega de trabalho mais pessimista que a hiena Hardy trazem experiências e opiniões que podem servir de alerta para possíveis contratempos no projeto. Saiba escutar o novo. Talvez este seja um dos pontos mais importante da inovação, o desafio em se reinventar está no ato de se desprender de paradigmas que, muitas vezes, podem estar ultrapassados.

As fases de desenvolvimento, testes, finalização e implementação variam de acordo com o projeto em que você está trabalhando, mas não esqueça de olhar o mundo a sua volta em cada uma delas. Projetos são seres vivos que evoluem com o tempo e, na maioria das vezes, precisam de adaptações no decorrer do caminho (das etapas de desenvolvimento).

Projetos são seres vivos que evoluem com o tempo e, na maioria das vezes, precisam de adaptações.

Para encerrar este segundo texto, quero retomar o case apresentado na parte 1 do nosso bate papo: o desafio da educação em Sobral, no Ceará. Lembra que disse que a inovação não pode ser vista como custo, mas como um investimento? É claro que ser inovador exige custos, mas será que isso é tão diferente do tradicional? Segundo Júlio Cesar da Costa, secretário de Educação na época, o valor investido no plano de educação de Sobral representava entre 26 a 27% do orçamento da prefeitura. No entanto, o mínimo constitucional é 25%, ou seja, a região aumentou o investimento em 2% acima do percentual mínimo e teve resultados do impacto da gestão inovadora quase que imensurável (existem resultados tangíveis, mas o reflexo social a longo prazo é gigante). Se este texto fosse se resumir em uma dica, ela é “adote a inovação como costume, assim como você adotou a reciclagem ou o cinto de segurança, no início precisa ficar lembrando, mas depois de um tempo vira automático”.

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