China em 2020: Novo Coronavírus, economia em baixa e tendências em tecnologia

China em 2020: Novo Coronavírus, economia em baixa e tendências em tecnologia

Precisamos falar um pouco mais sobre China. Se você está lendo este texto no dia da sua publicação, provavelmente já deve estar sobrecarregado de conteúdo sobre o país oriental. Não é por menos. O coronavírus já fez dezenas de vítimas e o governo chinês já isolou várias cidades, contabilizando uma área total com cerca de 40 milhões de habitantes. De novo, não é por menos. A China já tem experiência com vírus devastadores. Em 2003, a epidemia de SARS (Síndrome Respiratória Aguda Grave, em português) deixou cerca de 650 mortos e a China teve que construir um novo hospital em poucas semanas. A estratégia de construir um prédio já está em andamento em Wuhan, foco central do coronavírus. Na última quinta-feira (23), pelo menos 45 maquinários, entre tratores e escavadeiras, chegaram à cidade para a construção de um novo hospital com mil leitos, dedicados a tratar pessoas infectadas com a nova doença. A previsão é que o novo hospital inicie as operações em 3 de fevereiro.

China em 2020: Novo Coronavírus, economia em baixa e tendências em tecnologia

A China em 2020: Economia desacelerando

Com ou sem novo vírus, a China é um país que merece atenção especial. No texto “Tendências para 2020: Ideias que muradão o mundo – Parte 1”, mais precisamente no item 6, falamos sobre o “século asiático” e como a economia global dependerá de China e Índia. “Em 2020, as economias asiáticas serão mais fortes do que todo o resto do mundo somado pela primeira vez desde o século XIX. A Ásia também abrigará mais da metade da classe média do mundo.”

Mas, como mostramos no texto anterior, essa troca de poderes entre ocidente e oriente não deve ser tranquila. A desaceleração do crescimento na Ásia testará o sistema capitalista, alerta Esther Duflo, economista do MIT e ganhadora do Prêmio Nobel de 2019. Números oficiais mostram que a segunda economia do mundo [a chinesa] cresceu 6,1% em 2019 — o pior índice em 30 anos.

Segundo a BBC Brasil, “embora um crescimento de 6,1% seja o mais fraco da China em 30 anos, ainda é maior que várias outras grandes economias. O banco central dos Estados Unidos, por exemplo, prevê que a economia americana crescerá cerca de 2,2% neste ano.” Em resumo, a economia da China cresceu e segue sendo uma das mais fortes, mas o último trimestre foi o mais fraco desde a crise financeira global em 2009. E o prolongamento desta desaceleração pode gerar impactos na economia global.

O Ano Novo Chinês e os impactos econômicos do coronavírus

Para agitar o cenário, aconteceu algo que nenhum economista poderia prever e que impacta diretamente a economia chinesa. O surgimento de um novo vírus no exato período do Ano Novo Chinês. Para entendermos o impacto, primeiro precisamos entender que as festividades do Ano Novo Lunar é considerado a maior migração humana. Durante o período, cerca de 350 milhões de pessoas movimentam o mercado com bilhões de deslocamentos pelo país (em 2019 foram cerca de 3 bilhões de deslocamento [viagens] durante os 40 dias de festividades). Isso acontece porque os chineses costumam visitar suas cidades natais, muitas em regiões rurais, gerando uma migração anual sem precedentes.

Além disso, o Ano Novo Lunar impulsiona o mercado doméstico e global. Em 2019, 42.286 contêineres TEU (equivalente a 20 pés) foram enviados de trem de Madri para Yiwu, um importante mercado atacadista da província de Zhejiang, leste da China. Já em 2017 (dados mais recentes que consegui encontrar), o varejo e a indústria de alimentação na China faturou 140 bilhões de dólares. Com dezenas de cidades isoladas devido o novo coronavírus e outros tantos chineses receosos com a doença, o impacto econômico deve ser nítido nas comemorações deste ano.

5G, IA e Crédito Social: As tendências chinesas para o mundo

Se nenhuma outra surpresa surgir no horizonte ou o coronavírus não piorar, ao ponto de virar uma pandemia, o ano de 2020 para os chineses deve seguir o ritmo da economia do país: não tá bom, mas também não tá ruim. Falo isso, pois algumas tendências chinesas devem funcionar como itens importantes para o restante do planeta, principalmente no campo da tecnologia e do impacto social.

Enquanto o restante do mundo discute 5G (no Brasil, o ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações afirmou que a “quinta geração de banda larga móvel só deve chegar por aqui no fim de 2021 ou começo de 2022”), a rede já é realidade em diversas cidades da China e já conta com mais de 170 milhões de usuários. A chinesa Huawei é uma das empresas que lideram o registro de patentes 5G (ao todo, o país detém 3.4 mil patentes reconhecidas desta tecnologia). Ou seja, enquanto discutimos como implementar o 5G por aqui, na China, milhares já utilizam a nova rede.

No campo da inteligência artificial, diversas soluções estão em atividade na China. Nas estações de metrô já é possível pagar a passagem com reconhecimento facial; nas lojas autônomas da Jingdong, empresa do grupo Alibaba, é possível provar roupas usando avatares virtuais. Ainda na China, segundo o site TAB, do UOL, “em um caso divulgado no início de 2020 pela mídia estatal chinesa (…) a corte da cidade de Shenzhen decidiu a favor do conglomerado de tecnologia Tencent em um processo de direito autoral. A Tencent é a criadora da inteligência artificial Dreamwriter, que, desde 2015, escreve notícias sobre finanças e esportes.”

Por fim, algo que parecia ter saído de um episódio de Black Mirror (como já falamos no texto “Tecnologias de Black Mirror na vida real”) tem se tornado comum no país. O “sistema de crédito social”, que avalia o cidadão por meio de uma pontuação, já está em testes desde 2014 e, ainda este ano, o governo chinês espera dar um novo passo neste sistema, integrando avaliações realizadas em diferentes serviços, criando um sistema nacional que premia os bons cidadãos. O sistema pode não parecer uma tendência e/ou não passar de um episódio de Black Mirror, mas será que existem muitas diferenças entre “sistema de crédito social” e o brasileiro Cadastro Positivo? Lembrando que, antes opcional, agora o Cadastro Positivo é automático (quem quiser esconder informações sobre seus hábitos de pagamento deve solicitar ativamente a exclusão) e é formado por informações financeiras como compras, parcelas e datas de pagamento.

Imagem Destaque: meteorlau/Shutterstock

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