Conta no Instagram divulga as histórias de horror contadas por assistentes de moda

Conta no Instagram divulga as histórias de horror contadas por assistentes de moda

A indústria da moda movimenta bilhões e mais bilhões mundo afora. E, junto a esses números exorbitantes, o problema: a relação desse mercado com o ser humano ainda não é nada saudável. Marcas usando trabalho escravo, modelos cada vez mais magras e a forma como os profissionais do mercado são tratados são apenas alguns dos exemplos.

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É comum se deparar com diversos tipos histórias: estagiários trabalhando de graça em tempo integral; estagiários trabalhando até as duas da manhã, enquanto precisam estar num set às 7 da manhã; e estagiários sendo encarregados de um grande número de tarefas absurdas, como parodiado no filme O Diabo Veste de Prada (2006), quando Miranda Priestly pede para sua assistente, Andy Sachs, conseguir um manuscrito de um livro do Harry Potter ainda não publicado para que suas filhas possam lê-lo porque “elas querem saber o que acontece depois.”

Obviamente, esses problemas não são unanimidade, mas eles já causam impactos negativos em um número suficiente de vidas mundo afora, e isso precisa acabar.

E como isso pode acabar? Essa é uma pergunta difícil de se responder. De qualquer forma, nós sabemos que a internet pode ser uma ferramenta extremamente útil nesse caso. Novas marcas estão surgindo para lutar contra a corrente, informações estão sendo compartilhadas e histórias estão sendo contadas.

No fim de 2017, quando o caso Harvey Weinstein foi exposto ao mundo, modelos começaram uma campanha ao compartilhar suas histórias de assédio usando a hashtag #MyJobShouldNotIncludeAbuse (Meu emprego não deveria incluir abuso, em tradução livre), começando pela modelo e ativista Cameron Russell. A partir daí, fotógrafos e criativos famosos como Terry Richardson, Patrick Demarchelier, Karl Templer, Mario Testino, e Bruce Weber tiveram seus nomes citados. Com tantas pessoas sendo expostas e sendo punidas por seus atos, podemos ver como as mídias sociais podem ser um catalisador para uma mudança cultural.

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Recentemente, uma conta no Instagram chamada @fashionassistants vem divulgando histórias reais de ex-estagiários e ex-assistentes da indústria da moda. Os relatos vão desde uma assistente atingida por sapatos Christian Louboutin, até pessoas que foram chamadas de gordas, feias, estúpidas, e até foram impedidas de comer.

A conta foi aberta em dezembro de 2017 e está com quase 10 mil seguidores – o que é considerado um número baixo no Instagram. Mas, entre os seguidores do @fashionassistants é possível encontrar editores de moda, estilistas, diretores criativos e executivos da área de Relações Públicas. Ou seja: as histórias que estão sendo contadas estão chegando exatamente ao público que deveriam chegar, o que é ótimo.

“Eu estava no set para um editorial que foi muito longo, e a estilista ficou presa no elevador, já que começaram a fechar tudo porque já era noite (e não estavam deixando ninguém que estava passando entrar nos andares). Quando ela voltou para o set, estava gritando, e começou a loucamente jogar as coisas ao redor. Infelizmente uma das coisas jogadas na minha direção foi um par de botas de cano alto da Louboutin. Eu estava de pé o dia inteiro, pegando coisas para a capa [de alguma publicação] que teria uma vencedora do Oscar, e ainda tive um par de sapatos jogado em mim. Foi o mais estranho agradecimento, algo que você só experimenta como assistente de um estilista.”

“Me mandaram ir até Chinatown (bairro de NY) para encontrar um certo tipo de sapato, que eu não conseguia encontrar em lugar algum. Quando voltei ao escritório às 10 da manhã, depois de chorar e entrar em pânico por não ter conseguido encontrar este sapato, me disseram para pedir demissão caso não pudesse fazer o trabalho. Eu nunca recebi o pagamento, o que significava que todas aquelas semanas que eu passava trabalhando para aquela mulher, correndo de um bairro para outro acabaram saindo do meu bolso. Eu a a cobrei três vezes pelo pagamento. Meus emails foram ignorados.”

“Eu fui assistente por vários anos antes de começar a trabalhar para um estilista bem conhecido, cujo trabalho eu adorava. Eu também era uma boa assistente, tinha uma boa reputação. Mas trabalhar para essa pessoa acabou com minha autoconfiança. Eu me tornei o tipo de pessoa que tinha medo de minha própria sombra. A experiência me ensinou a ser muito forte, e talvez eu precisasse disso, mas eu não gostaria que mais ninguém passasse por isso. Há uma pessoa que conheço que foi assistente um estilista há muitos anos e ainda está fazendo terapia por causa disso.”

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Apesar de os relatos contados no @fashionassistants não serem sobre assédio ou violência sexual, o projeto parte de um movimento mais amplo para expor aqueles que abusam do seu poder e se aproveitam de pessoas jovens e ansiosas para impressionar alguém na indústria. Poucas das histórias envolvem assédio sexual e poucas envolvem homens. As pessoas que estão passando por isso são, em sua maioria, mulheres e o abuso geralmente é verbal ou físico. Há estilistas atirando sapatos e cabides em suas assistentes ou proibindo que uma equipe inteira coma. E isso não deveria ser considerado normal, muito menos romantizado.

Para ler todas as histórias publicadas, clique aqui.

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