Como a internet pode nos ajudar a ter mais empatia?

Como a internet pode nos ajudar a ter mais empatia?

Em 2009, o designer e redator John Koenig criou o Dictionary of Obscure Sorrows (“Dicionário de Dores Obscuras” em tradução livre), um site com uma seleção de palavras inventadas pelo próprio John. Seu objetivo com o projeto era encontrar definições para as “emoções sem nome.” E uma dessas palavras está extremamente ligada ao fio condutor do texto de hoje.

Sonder: A percepção de que cada pessoa tem uma vida tão vívida e complexa quanto a sua.

Durante algum momento de minha pré-adolescência, me lembro de sentir como se meu cérebro estivesse explodindo ao me dar conta de que cada pessoa no mundo tem a sua vida, a sua história. Era incrível pensar que meu ator favorito estava vivendo sua vida normalmente, enquanto eu vivia a minha, em lugares diferentes. Em um momento mais romântico de minha adolescência, me lembro de ficar muito intrigada ao perceber que meu futuro marido estava vivendo sua vida normalmente e continuaria fazendo isso, assim como eu, até que nós nos encontrássemos.

Aos poucos, essa sensação foi evoluindo e até hoje acho incrível saber que todas as pessoas que passam por mim diariamente possuem uma história, que eu provavelmente nunca vou conhecer.

(O vídeo abaixo possui legendas em português!)

Você conhece a história de seus amigos, de sua família e vocês até compartilham momentos de suas histórias, mas será que é o suficiente? Atualmente, estima-se que 7,6 bilhões de pessoas vivam no Planeta Terra. São 7,6 bilhões de histórias acontecendo neste exato momento e você não vai conhecer a maioria esmagadora delas.

E se você pudesse conhecer algumas das histórias dessas pessoas desconhecidas?

O professor e escritor Ivan Mizanzuki está desde 2015 à frente do Projeto Humanos, um projeto que conta histórias em formato de podcast.

A primeira temporada, chamada As Filhas da Guerra, narra a história de Lili Jaffe, uma judia iugoslava sobrevivente do Holocausto. Já a segunda temporada, O Coração do Mundo, conta em seus 14 episódios experiências individuais de brasileiros e refugiados que se envolveram com os recentes conflitos no Oriente Médio, dando ao ouvinte uma melhor compreensão sobre a geopolítica nessa parte do mundo, partindo desde o 11 de Setembro até a Guerra da Síria. O Que Faz um Herói? é o título da terceira temporada do Projeto Humanos, e conta seis histórias isoladas, explorando momentos de heroísmo realizados por pessoas comuns.


Para saber mais sobre o Projeto Humanos e ouvir todos os episódios publicados clique aqui.


Mas projetos que se dedicam a contar histórias não acontecem apenas no Brasil. Em 2010, o fotógrafo Brandon Stanton criou uma página no Facebook chamada Humans of New York (“Humanos de Nova York”), o projeto nasceu com o objetivo inicial de fotografar 10.000 pessoas nas ruas da Big Apple e criar um catálogo dos habitantes da cidade. Em algum momento dessa jornada, Brandon começou a entrevistar as pessoas para complementar sua série fotográfica. Então, junto às fotos dos “modelos” do projeto, ele passou a publicar pequenas histórias sobre suas vidas.

Hoje, a página Humans of New York tem mais de 18 milhões de seguidores, e não conta apenas a vida dos moradores de Nova York. Brandon já passou por diversos países, como Rússia, Chile, Uruguai e até registrou alguns retratos de pessoas aqui no Brasil. Além da página no Facebook, o projeto conta com três livros publicados e uma websérie, que reúne 1.200 entrevistas gravadas em um período de 4 anos.


Para assistir a todos os episódios da série clique aqui.


Mesmo com tanto conteúdo produzido, eu sei que isso não chega nem perto de 7,6 bilhões, mas já amplia muito a nossa visão. E melhor ainda do que conhecer a história das pessoas que passam por você na rua, a internet faz com que conheça histórias de pessoas que você provavelmente nunca vai ver na vida. Brandon já contou a história de milhares de pessoas dos mais variados perfis: homens, mulheres, crianças, médicos, pacientes, professores e até mesmo celebridades no Met Gala, e também personalidades como Elon Musk, Hilary Clinton e Barack Obama. A cada publicação, nós conhecemos histórias felizes, tristes, românticas, emocionantes… O que nos leva de volta a mais um ponto que os dois projetos apresentados nesse texto têm em comum, inclusive em seu nome: humanos.

Nós somos todos seres humanos, com forças, fraquezas, opiniões, inseguranças, amores, vitórias e aprendizados. Será que nós trataríamos as pessoas de forma diferente se elas tivessem suas histórias estampadas em seu rosto? Será que nós teríamos mais cuidado ou nos empenharíamos mais em fazer com que cada uma de nossas interações fossem positivas, mesmo quando as opiniões conflitam?

Não se trata de absorver tudo isso com um sentimento de pena. Se trata de apenas ter a capacidade de se reconhecer no próximo, ter empatia.

E eu acredito que a internet tem sido uma ferramenta extremamente importante para isso. Projeto Humanos e Humans of New York é apenas um dos exemplos. Hoje, nós vivemos a Era do Compartilhamento. Mais de 3 bilhões de pessoas usam internet no mundo todo, e muitas delas compartilham suas histórias em todas as plataformas possíveis, seja no Facebook, no Instagram, no YouTube ou em blogs.

Que tal parar alguns minutos do seu dia para conhecer a história de alguém novo? Você nem precisa parar pessoas na rua para isso. Nós nunca tivemos tanto conteúdo à nossa disposição, a apenas um toque de distância. Que tal usar essa facilidade para dar um passo além do comum? Quando furamos nossa bolha e seguimos em busca do novo, a experiência pode não ser apenas surpreendente, mas também enriquecedora.

“Eu trabalho em construção desde os 15 anos. Gosto do que faço e faço o que gosto. Todas as noites, quando estou voltando para casa, eu olho para trás para ver o que eu construí. Isso me dá uma grande sensação de felicidade. Há alguns anos, eu construí um parque para crianças não muito longe daqui, quando finalmente abriram os portões, e todas as crianças correram para dentro do parque, eu comecei a chorar.”

“Ele se apaixonou por mim no primeiro dia em que nos conhecemos. Ele ficava me chamando de princesa. Ele disse que nós fomos feitos para ficar juntos porque nossos pés têm o mesmo tamanho. Olha como ele está ficando sem graça!”

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